quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Devora-me ou te decifro



Por Orlando Amado

"Infelizmente, está prevalecendo a falta de bom senso entre os sangues azuis. Eles ainda não perceberam a gravidade da situação da economia mundial e do esforço que se está fazendo para reativar a economia brasileira e garantir os empregos do setor privado, os mais vulneráveis”, disse um técnico da equipe econômica.


Declaração tanto paradoxal quanto discriminatória. De um lado servidores selecionados pelos mais rígidos critérios de avaliação que o Estado pode utilizar; critérios democráticos definidos na forma de concursos públicos, que os colocam em patamar de destaque, lutando pelos seus direitos constitucionais; de outro lado, dirigentes públicos ungidos pela aprovação popular, a querer massacrá-los, inebriados pela sensação semelhante à que Pilatos teve quando, ovacionado pelo povo, apontou o polegar para baixo, antes de lavar as mãos.

Não se tratam de pessoas agrupadas de forma sectária, facciosa, se abrigando sob algum manto ideológico ou popularesco. Ninguém é melhor do que ninguém. O destaque merecidamente obtido, é um destaque qualitativo, restrito ao seu universo de atuação. Um servidor da Polícia Federal, por exemplo, é destacado dentre os melhores capazes de policiar nos mais altos níveis e escalões da criminalidade; os da Receita Federal, dentre os melhores capazes de fiscalizar os feitos que possam comprometer os cofres públicos; os do Banco Central, os melhores dentre os capazes de serem guardiões da saúde financeira da nação. É assim que funciona a instituição “concurso público”, a melhor forma, a mais universalmente aceita, de se obter especialistas altamente qualificados para desempenhar funções públicas que, de outra forma, seriam vulneráveis à corrupção.

As “Carreiras Típicas de Estado” não são assim denominadas por serem melhores que outras ou por terem “sangue azul”. Foram naturalmente agrupadas dessa forma ao longo do tempo, por não terem qualquer similaridade com atividades desempenhadas na iniciativa privada. Por isso mesmo devem ser imunes aos mecanismos que, também naturalmente, surgem e estão sempre prontos para ameaçar a integridade do Estado com as tão conhecidas práticas de corrupção. Estas “carreiras”, no mundo todo, devem ser bem remuneradas e trabalhar em perfeita sintonia com o governo federal.

Agora, exatamente este governo, negando-lhes um dos mais elementares direitos constitucionais, o de manter atualizado anualmente o poder de compra do salário, quer espezinhá-las, se utilizando de armas desleais, pretendendo “lançá-las aos leões” da mídia cooptada pela máfia empresarial ávida por se beneficiar dos “kits felicidade” distribuídos beneplacidamente. E eles estão ali, na sala ao lado, aguardando, ansiosos para avançar sobre o que sobrar, mesmo que sejam “restos com sangue tingido de azul”.

Cabe aos servidores das instituições reunidas na “campanha salarial unificada” desfiar esse novelo, decifrar a verdade contida nesse ardiloso estratagema e revelar a verdade à mídia independente.

  Orlando Amado de Freitas Filho é servidor aposentado BC Salvador 

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