sexta-feira, 29 de julho de 2011

A parte do salário

Folha de São Paulo - 28/7/2011

RICARDO MELO

SÃO PAULO - O desempenho das contas externas do Brasil, bem como a safra de balanços semestrais, seja de bancos, seja de grandes empresas, desmente a onda de previsões sombrias do início do ano.
Os números sobre os investimentos estrangeiros diretos são impactantes. Como as manchetes estamparam, no semestre bateram o recorde de várias décadas, se considerada a série histórica que o Banco Central inaugurou em 1947. Os resultados do setor privado na primeira metade do ano também vão indo muito bem, obrigado.
Eis alguns: o lucro líquido do Bradesco cresceu mais de 20% e chegou a R$ 5,5 bilhões. Mesmo o Santander, sediado na tormentosa Europa, não pode reclamar. Seu lucro global recuou, mas aqui cresceu 7,6% e alcançou 1,4 bilhão.
Em dinheiro nosso, algo como R$ 3,1 bilhões. Detalhe: o Brasil, sozinho, respondeu por cerca de 25% dos ganhos auferidos pelo grupo mundo afora. Já a operadora Vivo conheceu um salto percentual ainda mais expressivo. Em comparação com o ano passado, os lucros da empresa avançaram 46%.
No conjunto dos setores, nada indica que as cifras abandonem o azul. Lá fora, a crise europeia e a queda de braço nos EUA sinalizam que a enxurrada de dinheiro externo deve continuar, sendo duvidoso o efeito das últimas medidas do governo na área cambial.
Embora a inflação nacional esteja um pouco mais elevada, nossa altíssima taxa de juros exerce uma força de atração incomparável.
Diante de algarismos tão vistosos e com campanhas salariais pela frente, é justo que o trabalhador brasileiro reivindique a sua parte.
Aquela conversa de reajustes pela inflação futura e de ausência de ganho real ou as pregações de que é necessário moderar o crescimento e esfriar a economia (num país com tantas carências como o Brasil!), vamos e venhamos, chegam a agredir o bom-senso. Mesmo sabendo que distribuir renda nunca foi o lado forte da elite nacional.

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